27 de setembro de 2005

«Ela Odeia-me» («She Hate Me», 2004), de Spike Lee

Spike Lee parece, com este filme, ter regredido um pouco aos primórdios da sua carreira. Isto porque, em vez de se manter na linha do seu magistral e sereno «A Última Hora», resolveu destilar veneno sobre a sociedade numa sátira cujo resultado final não consegue corresponder à soma aritmética das partes. Com isto quero dizer que o filme tem boas ideias, óptimos momentos e excelentes pedaços de crítica social, mas no cômputo geral não consegue uma harmonia narrativa que cole bem todos os ingredientes. Oscila demasiado de tom entre o drama pretensamente realista (as conversas de Jack com os pais ou com a ex-namorada) e o desvario cómico mais cartoonesco (os espermatozóides a correrem até ao ovo, John Turturro a imitar Vito Corleone), não conseguindo o equilíbrio desejado.
Mas o filme tem o mérito de nos obrigar a pensar, seja nos dilemas éticos do mundo empresarial ou biológico, seja na problemática das relações e do sexo. E há momentos impagáveis, como as cenas de sexo com as lésbicas propulsionadas por grandes quantidades de Viagra e Red-Bull ou a reconstituição onírica do caso Watergate.

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